quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

" Suportar o passar das horas, o peso dilacerante da ausência. "

"Daqui a pouco a tragédia deixará de ser notícia. Cada um terá de se ajeitar sozinho com a sua dor. Suportar o passar das horas, o peso dilacerante da ausência. Reviver o último encontro e dele extrair tudo o que for possível. A dor é inevitável aos que amam. Só a fé na ressurreição pode nos ajudar a conviver com o absurdo. Inúmeras chamadas não atendidas no celular de uma vítima.Todas elas identificadas como"mãe". Triste inversão dos fatos. A mulher está órfã." 

Padre Fábio de Melo

sábado, 19 de janeiro de 2013

Há dois tipos de perguntas...

Há dois tipos de perguntas. Uma que precisa ser respondida e outra precisa ser vivida. Há perguntas práticas e perguntas existenciais. Perguntas práticas se contextualizam no horizonte da objetividade. Perguntas existenciais não provocam respostas imediatas. Viver é uma forma de respondê-las. É maravilhoso conviver com elas... O que torna uma pessoa especial é sua capacidade de viver intensamente por uma causa. São raras nos dias de hoje. Vive-se muito pela metade ultimamente. Pessoas que se empenham na realização de seus sonhos não se conformam com a uniformidade. Assumem o preço de serem diferentes e, geralmente, nadam contra a corrente. Isso requer coragem. 
Coragem de ser, não simplesmente de fazer. Ser é mais difícil do que fazer, afinal, é no ser que o fazer encontra o seu sustento. Faço a partir do que sou. Não, o contrário. Tenho encontrado muita gente perdida no muito fazer. Gente que perdeu totalmente o referencial existencial de suas vidas. Gente que se empenhou e investiu na vida só para um dia poder fazer alguma coisa. Estudou, lutou, aprofundou, com o desejo de um dia poder desempenhar uma função. É claro que o fazer também realiza, faz feliz, mas não podemos negar que há uma realidade que precede o mundo da prática. 

O significado que sou 

No silêncio do coração, há um lugar que não sabe fazer nada. É lá que nos descobrimos em nosso primeiro significado. É ele também o nosso lado mais sedutor. É ele que faz com que as pessoas se apaixonem por nós. É justamente por isso que ele tem que ser bem descoberto, de maneira que, quando façamos o que quer que seja, tudo o que fizermos tenha as marcas do que somos. É simples. Medicina muita gente faz, mas é no exercício da profissão que cada pessoa se mostra em sua intimidade mais profunda. Aí mora a diferença. Muitos Fazem a mesma faculdade, mas se encontram de maneira diferente com o conhecimento que recebem. Realizo tudo a partir de minha particularidade. Sou único, ainda que imitado por muitos. 

Eis a questão 

Essas coisas me fazem pensar na beleza e na responsabilidade que essa diferença nos traz. Ela nos coloca diante da vida como um acontecimento que merece ser sorvido com toda a intensidade do nosso coração. Agir é um desdobramento do meu ser. Eu sou, antes de fazer qualquer coisa. Há em mim uma realidade que me faz significar, mesmo que um dia eu fique totalmente incapacitado de realizar qualquer ação. Eu sou, mesmo na incapacidade dos movimentos e na impossibilidade dos gestos. Nem sempre podemos compreender tudo isso, por mais simples que seja. Vivemos na era da utilidade, onde tudo tem que estar conectado a uma função prática, onde o fazer prevalece sobre o ser. O que você faz na vida? Esta é a pergunta. O que você é na vida? Continua sendo a pergunta. Mas a primeira é mais fácil responder. Dizer o que se faz não dá tanto trabalho quanto dizer o que se é. O que se faz é simples de se dizer e as palavras nos ajudam, mas dizer o que se é, não é tão simples assim, e por vezes, as palavras nem sempre nos socorrem. Sou muito mais do que posso dizer sobre mim mesmo. Você também. Por isso não gostaria que nossa conversa terminasse com uma pergunta pragmática, dessas que se escutam em todas as esquinas que costumamos freqüentar. Opto por uma pergunta que não espera por resposta imediata, tão pouco pelo desconcerto da fala. Só lhe peço que honestamente debruce-se sobre ela: Quem é você? 

Padre Fábio de Melo

Egoísmo

Sinto falta de você. 
Mas o que sinto falta é de tudo o que é seu e me falta. 
Sinto falta de minhas faltas que em você não faltam. 
Sinto falta do que eu gostaria de ser e que você já é.
 Estranho jeito de carecer, de parecer amor. 
Hoje, neste ímpeto de honestidade que me faz dizer,
Eu descobri minhas carências inconfessáveis que insisto em manter veladas. 
Acessei o baú de minhas razões inconscientes e descobri um motivo para não continuar mentindo.
Hoje eu quero lhe confessar o meu não amor, mesmo que pareça ser.
Eu não tenho o direito de adentrar o seu território Com o objetivo de lhe roubar a escritura.
Amor só vale a pena se for para ampliar o que já temos. 
Você era melhor antes de mim, e só agora posso ver. 
Nessa vida de fachadas tão atraentes e fascinantes;
nestes tempos de retirados e retirantes, sequestrados e sequestradores, 
A gente corre o risco de não saber exatamente quem somos. 
Mas o tempo de saber já chegou. 
Não quero mais conviver com meu lado obscuro,
E, por isso, ouso direcionar meus braços 
Na direção da dose de honestidade que hoje me cabe. 
Hoje quero lhe confessar meu egoísmo. 
Quem sabe assim eu possa ainda que por um instante amar você de verdade. 
Perdoe-me se meu amor chegou tarde demais, 
Se meu querer bem é inoportuno e em hora errada.
É que hoje eu quero lhe confessar meu desatino, 
Meu segredo tão desconcertante: 
Ao dizer que sinto falta de você 
Eu sinto falta é de mim mesmo. 

Padre Fábio de Melo(Quem me Roubou de Mim)

A Esperança Entre Nós - cd "Estou Aqui" do Padre Fábio de Melo