sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O direito de escolher - Parte 1/ 7

Quer ser santo? Assuma que você é fraco!

Quer ser santo? Assuma que você é fraco!
Padre Fábio de Melo 

É uma riqueza insondável este texto de São Paulo: II Coríntios 12,1-10. O apóstolo nos fala que, para seu espírito não se encher de orgulho e vaidade, foi lhe colocado um "espinho na carne".
Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que vai saber salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, vai saber encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer em que nós precisamos melhorar. Contudo, esse é um grande desafio para todos nós, porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Sabe por quê? Porque muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fraquezas há uma série de repreensões diante de nós.

Você já reparou que nós não deixamos a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele? Fazemos uma série de "caras feias" para ver se calamos a criança, para tentar espantar a fragilidade.

Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja filho da gente. Nós gostamos é de todo o mundo feliz! Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faça esquecer nossos limites.

Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo em que ainda temos de melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estamos prontos, não somos perfeitos, estamos por ser feitos, estamos sendo feitos aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos nós vamos descobrindo onde é que dói “esse espinho” de que fala o apóstolo dos gentios. Esse espinho muda de lugar. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, tanto maior é a facilidade de conhecer limites.

Para você retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o seu corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos de tirar aquilo que não nos pertence. Existem algumas inflamações do espírito, da personalidade, porque há pessoas que são tão aborrecidas que a gente não pode nem encostar nelas. São aquelas inflamações que se alastram.

E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Porque Deus não quer que você seja um “anjinho” na terra, mas que você deixe de ser “inflamado”! Ele quer lhe mostrar as inflamações para que você lute contra elas.

Cara feia, arrogância, tudo isso é complexo de inferioridade. Sabe qual é o “espinho”? O medo, a insegurança.

Você já fez a experiência de viver uma palavra que fizesse com que saísse tudo o que estava estragado em seu interior? Língua afiada quer dizer: deixar toda a inflamação que está dentro de nós vir para fora. Ter condições de deixar “vazar” aquilo que antes desconhecíamos é admitir e reconhecer que somos frágeis. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender.

Muitas vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, – porque parece que o mundo de hoje se esqueceu de mostrar a cultura do esforço que se fez para chegar aonde chegamos –, perdemos o direito de chorar. E por diversas vezes choramos e não sabemos por que estamos chorando.

O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, nós sangramos. E nós precisamos sangrar. Um dos maiores poetas da música diz isso.

Quantas vezes você não se viu traduzido em uma canção de alguém que teve a coragem de sangrar, porque não teve medo de mostrar as próprias fragilidades?

Nós somos todos iguais. Nós músicos somos todos iguais. Não adianta fingirmos que somos fortes ou ficar fingindo que não sentimos nada e que não temos medo. Eu não sei se existem mais de cinco pessoas que conhecem os seus segredos. Para quantas pessoas você teve coragem de sangrar? Pessoas que o enxergam por dentro são raras.

Conversão é isso. É você educar o seu filho para que ele possa lhe contar onde estão os “espinhos”. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos de trabalhar para que sejamos melhores.

A vida vai perdendo a graça porque não nos deixamos sangrar. A gente sangra melhor nos momentos de intimidade, nos quais a gente tem coragem de tirar a couraça. É muito melhor admitir que temos medo. Para as pessoas é sempre doloroso ter de tirar os “espinhos” e ver vazarem as inflamações.

Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Muitas vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas acham de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos.

Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil.

Padre Fábio de Melo
Apresentador do programa 'Direção Espiritual'



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Padre Fábio de Melo - Felicidade, onde moras?


Padre Fábio de Melo
Foto: Clarissa Oliveira/Fotos CN
Trabalhei em escola de samba, e para as escolas irem para rua, precisam estar harmoniosas; é isso que eu desejo a vocês: saiam daqui em harmonia.

“No dia seguinte João estava outra vez ali, e dois dos seus discípulos; E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus. E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus. E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais? E eles disseram: Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras? Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima. Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João, e o haviam seguido.


Este achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). No dia seguinte quis Jesus ir à Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê. Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo.
Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira. Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel. Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás. E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”
(Mc 1,35-ss).

Muitas vezes, não sabemos falar aos outros o que procuramos, porque não respondemos a nós mesmos.
Foto: Wesley Almeida


É interessante a primeira palavra de Jesus que João narra: - Olhando para os olhos Jesus diz “O que procuras?” Aqueles discípulos eram de João, mas este tinha consciência de que os estava preparando para Jesus.

Há necessidade de partilhar alegria, de prolongar nossa felicidade e, assim, reconhecemos os amigos nos momentos de alegria, porque os verdadeiros se alegram conosco.

Desde que o mundo é mundo o ser humano anseia ser feliz. Este Evangelho traz a pergunta de Jesus - “A quem procuras?” Seguida com outra pergunta dos discípulos.

Como a mulher no poço de Jacó Jesus lhe deu a água viva, ela, que vinha humilhada com a lei, ela que era mulher e samaritana, mas o Senhor não se preocupou com os os rótulos, com os preconceitos e lhe dá a verdadeira felicidade. Quando se quebra o preconceito dá-se oportunidade de conhecer o ser humano. A mulher disse a Jesus que tinha sede, e olhando nos olhos, o Senhor descobriu que ela precisava muito mais que água.

Fico pensando no maior desafio do psicólogo: ouvir o que o paciente não consegue dizer. O ser humano tem uma grande facilidade de se esconder atrás da palavra. O que você procura? Qual é a sua sede?

Não se contente com felicidade de fachada, felicidade é o conforto interior de saber que você é como é. Quantas felicidades de fachada há por aí!
"E Jesus hoje pergunta a você: 'O que procura?'"
Foto: Clarissa Amaral

Muitas vezes, não sabemos falar aos outros o que procuramos, porque não respondemos a nós mesmos.

Existe uma pergunta mais ingrata do que esta: "Por que você está chorando?" Minha gente, o choro é apenas a "ponta do iceberg". Diante do choro ou você pergunta por que a pessoa está chorando ou a abraça e pergunta por que ela está chorando. Eu, como homem do Altar, não posso abrir mão de inquietar seu coração, pois coração acomodado não pode entrar no céu. Coração acomodado não vai ser feliz nem vai entrar no céu. A vida da samaritana continuou a mesma, ela precisou fazer uma faxina interior, precisou se decidir, e aí a felicidade de fachada caiu por terra e ela ficou com a verdadeira felicidade.

A felicidade de fachada é triste porque traz ressaca ao interior. Quando Deus entra na nossa vida é para nos fazer melhores. O desafio de todo cristão é entusiasmar a quem está ao lado dele.

A segunda pergunta dos discípulos a Jesus é: "Onde permaneces?" E Ele responde: "Vinde e vede!".

E Jesus hoje pergunta a você: "O que procura?"

No discurso dos miseráveis está a santidade. Fingimos para sermos amados, mas assim nunca nos sentiremos felizes.

Padre Fábio de Melo

Felicidade, onde moras? ( Acampamento de carnaval, CN 2011)

Palestras Canção Nova - Pe. Fábio de Melo se emociana ao lembrar de um J...

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Padre Fábio de Melo afirma: a religião vem primeiro lugar!

Padre Fábio de Melo admite ser vaidoso, mas diz que até na hora de dar autógrafo a religião vem primeiro lugar



Padre Fábio na igreja Nossa Senhora de Montserrat, no Mosteiro de São Bento
Foto: Pércio Campos /
Naiara Andrade
Assim como os outros 31 monges do Mosteiro de São Bento, no Centro do Rio, Dom Filipe Silva, de 50 anos, leva uma vida simples, de clausura, voltada para as orações. Sua vestimenta costumeira é o hábito preto, adornado por um crucifixo prateado no pescoço. Acorda às 4h30m da madrugada e se recolhe por volta das 20h15m. Encontra a família apenas uma vez por ano. À televisão, só assiste em ocasiões muito especiais, como na transmissão desta visita do Papa Francisco ao Rio.
Aos 42 anos, Padre Fábio de Melo tem residência fixa em Taubaté, interior de São Paulo, mas mal permanece por lá. Com uma agenda agitada de apresentações Brasil afora, vive hospedado em hotéis ou casas de amigos a cada cidade que visita. Vende milhões de discos e livros, e seu dia a dia é dividido entre celebrações religiosas, shows musicais, gravações de programas para TV e rádio e palestras religiosas. O padre que é pop não usa batina, mas jeans justo e camisas moderninhas. À televisão, assiste pouco, por pura falta de tempo. Mas, para a alegria de fãs e fiéis, está sempre do lado de lá da telinha, participando de alguma atração junto a artistas famosos.

Tenho um cotidiano corrido, mas já tive a oportunidade de fazer retiros e ficar 15 dias em silêncio. Sinto falta disso
Padre Fábio de Melo

Nos últimos dias, em meio aos burburinhos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que termina neste domingo, e sob os olhares de dezenas de peregrinos do mundo inteiro, as realidades dos dois sacerdotes se encontraram. A convite da Canal Extra, Padre Fábio reservou um tempo na semana em que marcou presença na maioria dos atos centrais do evento, quase que como cicerone — o ponto alto foi cantar “Seja bem-vindo”, música especialmente composta por ele para acolher o papa —, para conhecer o mosteiro carioca e sua belíssima igreja dourada, toda em estilo barroco, que data do século 17. Ele também acompanhou um pouco da oração dos monges e seu canto gregoriano.
— De vez em quando, busco essa vida recolhida que eles têm, sem TV nem celular. Tenho um cotidiano corrido, mas já tive a oportunidade de fazer retiros e ficar 15 dias em silêncio. Sinto falta disso — suspirou o religioso, após enfrentar duas horas e meia de trânsito da Barra ao Centro da cidade.
Enquanto os demais monges observavam, curiosos, a postura do padre garotão, Dom Filipe fazia as honras da casa. Com modo de vida tão oposto à do colega, o abade opinou sobre a importância de um trabalho diferenciado como o de Padre Fábio dentro do catolicismo:
— Creio que há uma sinceridade da parte dele no que realiza. Deus usa as pessoas como elas são para serem instrumentos. Então, se a obra é boa, se a intenção é reta, os meios não são tão relevantes assim. Seja pelo rádio, pela televisão ou pela música, o importante é que ele seja sincero. Que a graça não lhe falte pra que permaneça firme nesse propósito, já que imagino que receba muitas críticas e restrições.
Mesmo sem saber, o monge acertou. Padre Fábio é alvo de críticas desde que decidiu evangelizar através de sua música:
— Sou criticado até dentro de casa (da Igreja), pelos colegas. Mas, sem críticas, a vida não é possível. Se honestas, me fazem crescer.
O dom de cantar
O teólogo agradece quando elogiam sua voz, mas não acredita que cante tão bem assim...
— Gosto mais da minha interpretação do que da minha voz. Não tenho técnica alguma, nunca estudei música. É um mistério. Talvez o segredo seja eu cantar na mesma região em que falo, não buscando tons muito altos. E não bebo, não fumo, tenho boa alimentação.

Cuido da minha saúde e da aparência, nunca escondi isso. Sou vaidoso, sim. Só presto atenção para que essa vaidade não se torne um defeito
Padre Fábio de Melo

A vida saudável, acrescida de uma rotina de exercícios físicos, faz de Fábio de Melo uma figura atlética e atraente, no sentido mais casto da palavra.
— Cuido da minha saúde e da aparência, nunca escondi isso. Sou vaidoso, sim. Só presto atenção para que essa vaidade não se torne um defeito. Faz parte do meu ofício de homem público andar bem arrumado, estar apresentável nos lugares a que vou — afirma Padre Fábio, sempre assediado por fãs ardorosas: — Às vezes, elas ainda passam dos limites, ficam fixadas em mim e não naquilo que estou anunciando. Preciso contornar com educação.
Artista, sim
Aos pedidos de fotos e autógrafos, ele conta, atende como padre, e não como artista. Embora também se considere um.
— Seria hipocrisia da minha parte dizer que não sou um artista. Acredito na minha arte e sei que ela faz bem ao coração das pessoas. Mas meu autógrafo é de padre. Nunca faço um só para preencher um papel. Tenho sempre uma palavra de carinho. Sou naturalmente afetuoso — conta ele, que mantém contato diariamente com os fiéis através do Twitter: — Cheguei a achar que vida virtual era bobagem, mas é impressionante como a mensagem de alguém que a gente nunca viu pode criar um acalento dentro de nós. E tem muita gente com senso de humor apurado nas redes. Isto torna a vida mais leve.
Amigo de celebridades como Xuxa, Elba Ramalho e Fafá de Belém, Padre Fábio entende que é bom também ser famoso quando quebra preconceitos, divulgando a palavra de Deus em meios não religiosos.
— O ruim é que fico privado de ser quem realmente sou, de me exercer na simplicidade, de celebrar uma missa sem que isso se torne um evento. Fico privado de um cotidiano que me faz bem, que eu preciso viver.



Padre Fábio de Melo troca experiências com Dom Filipe Silva, abade do mosteiro
Fonte: http://extra.globo.com/noticias/rio/jmj-2013/padre-fabio-de-melo-admite-ser-vaidoso-mas-diz-que-ate-na-hora-de-dar-autografo-religiao-vem-primeiro-lugar-9208225.html

Padre Fábio de Melo - A fé requer coragem


Homem de fé é aquele que não vê e mesmo assim não desiste. Deus não decepciona aquele que o busca e espera n’Ele. É belíssima a passagem de quando Moisés conduz o povo em fuga do Egito e eles se encontram diante do mar. Para o povo sair da escravidão, o mar precisou se abrir. O povo, diante da impossibilidade de vencer as águas e tendo atrás o exército dos egípcios, se volta contra o profeta e lhe pergunta por que ele os retirara do Egito, se eles não têm como ultrapassar o mar. Moisés então se volta a Deus e o Senhor lhe diz apenas uma frase: "Diga ao povo que caminhe". Deus não lhe proferiu uma frase que garantisse o milagre, mas que requeria fé. 

A expressão de Deus não é uma expressão que facilita a vida, mas que encoraja. O Senhor não facilita, pois quem facilita corre o risco de infantilizar o facilitado e Ele não nos quer infantis na fé. Deus nos quer amadurecidos, prontos para dar o primeiro passo. Fé é saber acreditar quando tudo está ao contrário. Homem de fé não é aquele que vê. É o que não vê e mesmo assim não desiste. 

Na experiência do povo de Israel, Deus não facilita, mas requer sua fé. O povo queria uma reposta mágica, mas Deus dá uma ordem que encoraja, que faz crescer dentro deles a lembrança que aquele Deus que caminhou com eles não os deixaria na mão.
Nós não sabemos como será, mas não desistimos do que esperamos. Quando tudo indicava que a morte iria chegar, com os pés na água, seguindo a ordem do Senhor, o milagre aconteceu.

Por um lado, eles estavam imobilizados pelo mar que podia afogá-los; por outro, pelo exército que poderia matá-los. Aquele povo estava emparedado. Ser homem e mulher de fé é você viver uma única alternativa: aquela de não poder recuar.
O que faz um homem ser de fé é a resposta que dá diante da insegurança. Isso é cristianismo. Não é uma postura angelical, é uma forma de se tornar guerreiro, soldado. 

Coragem! Vitória é o que Deus quer celebrar na sua vida por meio da fé.

Padre Fábio de Melo


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

FÁBIO DE MELO - O DIREITO DE SER FRÁGIL

O direito de ser frágil

É uma riqueza insondável este texto de São Paulo (2Cor 12,1-10). São Paulo nos fala que para que o seu espírito não se enchesse de orgulho e vaidade, foi lhe colocado um "espinho na carne".

Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que vai saber salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, vai saber encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer onde a gente precisa melhorar.


É um grande desafio para todos nós porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Sabe por quê? Porque muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fragilidades, há uma série de repreensões diante de nós.

Você já reparou que a gente não deixa a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele. Fazemos uma série de "cara feia" para ver se a gente cala a criança, para tentar espantar a fragilidade.

Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja filho da gente. Nós gostamos é de todo mundo feliz. Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faz esquecer o limite.


Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo que ainda temos que melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estou pronto, eu não sou perfeito, estou por ser feito, estou sendo feito aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos eu vou descobrindo onde é que dói este espinho. Este espinho muda de lugar. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, maior é a facilidade de conhecer limites.

Para você retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o seu corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos que tirar aquilo que não nos pertence. Tem algumas inflamações do espírito, da personalidade que tem gente que é tão aborrecida que a gente não pode nem encostar. São aquelas inflamações que se alastram.

E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Porque Deus não quer que você seja um anjinho na terra, mas que você deixe de ser inflamado. Ele quer te mostrar as inflamações para que você lute.

Cara feia, arrogâncias, isso é complexo de inferioridade. Sabe qual é o espinho? O medo, a insegurança.

Você já fez a experiência de viver uma palavra que te fez vazar em tudo o que estava estragado? Língua afiada quer dizer: deixar toda a inflamação que está dentro de nós vir para fora.

Ter condições de vazar aquilo que antes a gente desconhecia é admitir e reconhecer que somos frágeis. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender.

Às vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, porque parece que o mundo de hoje se esqueceu de mostrar a cultura do esforço que se fez para chegar aonde chegamos, perdemos o direito de chorar. E muitas vezes choramos e não sabemos o porquê estamos chorando.

O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, a gente sangra. E nós precisamos sangrar. Um dos maiores poetas da música diz isso.

Quantas vezes você não se viu traduzido em uma canção de alguém que teve a coragem de sangrar, não teve medo de mostrar as próprias fragilidades.

Nós somos todos iguais. Nós, padres, somos todos iguais. Não adianta a gente fingir que é forte, ou ficar fingindo que não sente e que não tem medo. Eu não sei se você tem mais de cinco pessoas que conhecem os seus segredos. Para quantas pessoas você teve coragem de sangrar? Pessoas que te enxergam por dentro são raras.

Conversão é isso. É você educar o seu filho para ele poder te contar onde estão os espinhos. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos que trabalhar para ser melhor.

A vida vai perdendo a graça porque não nos deixamos sangrar. A gente sangra melhor nos momentos de intimidade, onde a gente tem coragem de tirar a couraça. É muito melhor a gente admitir que tem medo. Para as pessoas ,é sempre doloroso ter que tirar os espinhos, de ver vazar as inflamações.

Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Às vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas estão achando de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos.

Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil.

Padre Fábio de Melo 
Fonte: Canção Nova

A resiliência da alma - Pe. Fábio de Melo - Programa Direção Espiritual ...