quarta-feira, 3 de outubro de 2018

São Francisco de Assis

A experiência que Francisco fez de Deus e que ficou definitiva na história do Cristianismo foi justamente reconhecer em Deus um amigo. Penso que a amizade é o estágio mais apurado do amor porque é um amor que escolhe. Um pai, pela obrigação do sangue, precisa amar o filho, a mãe, os irmãos. A obrigatoriedade do sangue nos coloca quase que de forma desconfortável na necessidade de amar, é por isso que sofremos tanto quando identificamos que não amamos aquele que tem um vínculo de sangue. E, às vezes, precisamos de longos períodos de terapia para poder curar a culpa que carregamos porque isso é uma imposição cultural.
Mas na amizade ninguém é obrigado a ser amigo. Se há uma coisa que na vida nós somos livres é para escolher amigos. Amigo é aquele que você traz pra dentro da sua vida, aquele que você encontrou por acaso e sem nenhuma obrigação você quis amar.
Francisco nasceu dentro de uma família religiosa mas até então não havia experimentado Deus. Talvez tivesse passado pelo contexto das obrigações, frequentando as missas como era de costume. Ele era um moço bonito, jovem, rico e com muitos amigos e, em uma das suas muitas idas e vindas pelos arredores de Assis, ele teve a experiência de ser preso pelos olhos de um leproso. E aquilo o incomodou, despertou nele um desejo de oferecer àqueles que viviam esquecidos um pouco de sua generosidade que ele já estava acostumado a oferecer aos seus amigos.
Com essa experiência, ele descobriu que existia uma forma mais generosa de amar, que era oferecer a quem não podia retribuir e ali ele se tornou amigo dos pobres, e essa é a grande marca de Assis. A palavra pobre não se limita ao ser humano, e sim todo aquele ser vivo que está indefeso, estendendo esse amor a todas as criaturas. Ele começou a amar de maneira tão intensa, a partir daquele leproso, que tudo aquilo que via como realidade viva ele passou a respeitar como seu irmão, chamando o vento e o Sol de irmãos, identificando que Deus está presente nas águas do rio, no mar.
Francisco inaugura na igreja a teologia da ecologia, uma forma de perceber Deus nas realidade criadas. Todas as dimensões da sua vida foram passadas no crivo dessa amizade com Deus, ao identificá-lo um amigo. Francisco se torna irmão de todas as realidades, ao fazer a amizade com Deus, trazendo para nós uma mística muito preciosa e que na verdade sempre esteve nos evangelhos, mas que foi esquecida pela Igreja.
Naquele momento Francisco faz uma verdadeira revolução, tanto é que quando ele se sentiu motivado nas suas experiências místicas, Deus disse que ele deveria reformar a Igreja e, não sabendo que Deus se referia à instituição, ele reformou, junto com os seus amigos, a Capelinha de Santa Maria. Nesse momento, Francisco começa a ser rodeado por seus primeiros discípulos que ficaram convertidos por ver a sua conversão, pois essa é a maravilha da vida virtuosa, ela contagia e contamina os que estão ao redor.
E aquele menino que era rico aprendeu que ele possuía uma riqueza superior a que seus pais lhe ofereciam, que é a riqueza que vem morar nos nossos olhos quando de fato nos convertemos ao evangelho. Isso mudou a maneira como Francisco olhava para o mundo com uma sensibilidade que fez diferença e que marca a história do Cristianismo até hoje.
Francisco é um homem que começou a entender que a experiência Cristã tem que mudar a nossa relação com tudo e com todos, a começar pelo respeito que temos. O mundo precisa do nosso respeito assim como a outra pessoa também precisa.
A experiência de amizade que Francisco fez foi justamente a partir do verbo permanecer, não existe amizade ou aprofundamento da amizade sem o verbo permanecer, é aquela oportunidade que temos de entrar na intimidade com o outro e é o que fortalece o vínculo.

Padre Fábio de Melo 

Fonte: http://www.fabiodemelo.com.br/sao-francisco-de-assis/

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